Ensino de jornalismo de dados

Oi pessoal,

Abrindo um tópico aqui para discutirmos o ensino de jornalismo de dados em instituições de ensino, o que acham?

Tem bastante pessoas por aqui com experiências interessantes nas universidades (alô, @tseibt @mariliagehrke @Thays @ncortezrj @Burgos @rodolfoviana @josir @RodrigoMenegat Trasel) e recentemente o @emmanuelmac abriu um tópico sobre o estudo de viabilidade que ele está fazendo para inserir o tema no ensino médio .

Sabemos que tradicionalmente nos curriculuns de comunicação e jornalismo o trabalho com dados não é priorizado. Felizmente, porém, temos hoje já temos várias pessoas desenvolvendo disciplinas de jornalismo de dados em universidades país afora e me parece que muitas estão por aqui.

Quais são as instituições de ensino que estão oferecendo disciplinas de jornalismo de dados? Qual o conteúdo é ou poderia ser abordado nestas disciplinas? Quais são as metodologias, o que deu certo e o que deu errado nas salas de aula?

Atualmente, não estou tocando nenhuma disciplina em universidade, mas tive uma experiência dando aula em uma pós-graduação uns anos atrás. Vou resgatar algumas coisas aqui e compartilhar aqui no tópico como foi depois.

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Opa Belisário! Tudo tranquilo amigo?

Eu dei 3 edições de Introdução ao Python no PPGCI/IBICT me baseando no curso do @turicas e do @Burgos. Esse curso que eles deram no Knight Center é uma ótima referência para qualquer um que queira dar aulas introdutórias.

Eu dava as aulas presenciais tentando seguir os mesmos tópicos que o curso deles mas com exemplos diferentes e aí os alunos que precisassem de reforço, usavam os vídeos para estudar em casa. A experiência foi muito boa.

Segue o detalhamento do curso:

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Parabéns pelo tópico @adriano
Aproveito para lembrar do Seminário da Abraji no qual colegas com pesquisas acadêmicas podem mostrar seus trabalhos:

Estão abertas as chamadas para o 7º Seminário de Pesquisa em Jornalismo Investigativo e a apresentação de trabalhos de conclusão de curso (TCCs), eventos que antecedem o 15º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, realizado pela Abraji.

Em razão da pandemia de Covid-19, o congresso de 2020 será virtual. As datas já estão definidas: 11 e 12 de setembro. Em breve, informações sobre a programação, a estrutura e as inscrições, que também foram adaptadas, serão divulgadas.

Ao todo, 15 pesquisadores terão seus resumos de artigos inéditos selecionados para apresentação e discussão no 7º Seminário de Pesquisa em Jornalismo Investigativo; e três jornalistas recém-formados terão os TCCs escolhidos.

As apresentações serão todas on-line e ocorrerão na quinta-feira, 10 de setembro.

Atenção aos prazos: as inscrições tiveram início nesta terça-feira, 16, e vão até o próximo dia 10 de julho, às 23h59.

Mais detalhes sobre datas, instruções e temas aqui:

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Oi @josir, valeu por compartilhar a experiência por aí!

Vou seguir o tópico contando um pouco da aula que dei em uma pós sobre jornalismo digital. O tema da disciplina era jornalismo de dados e a carga horária também era reduzida. Minha ideia foi mais passar alguns conceitos básicos, exemplos inspiradores e dicas para quem quiser desenvolver projetos e investigações nessa área, dando preferência por abordar ferramentas simples que não demandavam conhecimentos de programação. No geral, segui a metodologia do “data pipeline” da Escola de Dados, para falar sobre cada etapa, problemas e soluções.

Acho que o maior desafio foi o desnivelamento da turma, pois algumas pessoas já tinham uma boa noção, enquanto outras não eram tão familiarizadas com o computador e editores de planilha. Pelos exercícios, deu pra ver que as primeiras conseguiram absorver bastante coisa e inserir nas suas práticas, mas para aquele segundo grupo acho que seria necessário mais algum tempo de prática conjunta ou talvez pensar níveis diferentes de desafios e práticas. Por outro lado, eu destacaria como algo que deu bastante certo termos usado bases de dados reais, locais e potencialmente utilizáveis em investigações jornalísticas durante os exercícios e demonstrações.

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oi, pessoal. Como disse o @adriano, estou produzindo um projeto em relação ao tema. Acho que vou precisar também da ajuda de vocês. Trabalho com Comunicação e Educação há 5 anos (boa parte no Ministério da Educação) e conheço um pessoal de vários estados no tema. Com dados, me dedico há uns 3 anos.

A disciplina não é certa que seja lecionada. No momento, alguns estados estudam possibilidades dentro da realidade das redes e mesmo da procura. O estudo vai mostrar essa viabilidade dentro do raio-x e o projeto pedagógico será construído, claro, pela própria rede.

Creio que é uma boa oportunidade para difusão e formação de futuros profissionais. Imagino uma disciplina introdutória no Ensino Médio, com conceitos básicos e quem quiser se aprofundar vai buscar após a conclusão da educação básica.

Acho uma pena nossos currículos do ensino superior não incluírem isso em cursos de Comunicação. Quem sabe isso muda no futuro.

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Bem legal esta experiência, @emmanuelmac! Fiquei com uma dúvida aqui: vocês optaram por pensar a disciplina como jornalismo de dados por alguma razão específica neste caso? Por que não uma abordagem mais geral na linha de ‘data literacy’ para o Ensino Médio?

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Olá, pessoal. Aqui no Ceará, a UFC ( universidade federal) é a única que oferta a disciplina de jornalismo de dados. Mas não como parte da grade fixa do curso, e sim como optativa, um vez por ano, dependendo da demanda dos alunos. A primeira vez foi em 2017.

Fiz meu estágio em docência nesta disciplina e em introdução a estatística (também optativa) , ambas no curso de jornalismo da UFC.

Algo que eu e professor responsável pela disciplina avaliamos, e os alunos também, é que a cadeira de DDJ deveria ser incorporada a grade permanente do curso. Além disso, concordamos que deveria ter DDJ 1 , DDJ 2 e DDJ3. Pois neste primeiro momento eles são introduzidos a conceitos iniciais de estatística e programação. Mas não chegam a ver o uso de expressões regulares e webscraping, por exemplo. A parte de visualização interativa de dados também é irrisória.

A turma começa lotada, tipo uns 28 alunos e termina com metade disso. Motivos: Um deles é a aversão / medo da matemática. Mas os que resolvem enfrentar e começam a ver a aplicabilidade no trabalho, acabam empolgados e querendo mais.

Nas demais universidades daqui, jornalismo de dados é citado ou nem isso. A Estácio, por exemplo, incorporou a disciplina na grade fixa do curso, mas ela nunca foi ministrada.

Sobre metodologia e o que abordamos nesta disciplina, além da introdução sobre o que é jornalismo de dados, RAC , Jornalismo de Precisão e etc, depois passamos para conceitos estatísticos , estatística descritiva, obtenção , limpeza e formatação de dados . Aí trabalhamos no LibreOffice e depois vamos para o R.

No R trabalhamos dataframes , ggplot para gráficos , análise exploratória , pesquisa reprodutível, correlação, etc. Aí eles trabalham uma pauta e fazem uma reportagem de DDJ, que é o trabalho final da disciplina.

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Oi, gente! Bom tópico para discussão :slight_smile:

Aqui no RS, que eu saiba, são poucas as universidades que oferecem uma disciplina exclusiva de jornalismo guiado por dados, ainda que várias instituições tenham interesse em implementar. Pela minha experiência, o tópico geralmente é contemplado com aulas pontuais em disciplinas de jornalismo digital (eu mesma já participei de várias), jornalismo investigativo ou mesmo jornalismo científico, como já fizemos na UFRGS (fiz estágio docente com o Träsel; atualmente, pelo que sei, ele incluiu #ddj em alguma das várias disciplinas de Ciberjornalismo). Também acontece de a demanda ser suprida por meio de cursos de extensão, mas confesso que, ao menos no interior do RS, onde ofereci aulas, a aderência dos alunos têm sido baixa. Muitos estudantes me procuram para saber como se aproximar do jornalismo de dados, mas acho que o receio de fazer cálculos (como bem disse a @Thays, rola um medo inicial com relação às planilhas) e a falta de grana, no caso dos cursos pagos, são um obstáculo.

Quando sou convidada para ministrar alguma aula de jornalismo de dados, geralmente passo pela parte teórica (incluindo jornalismo de precisão, RAC, e a bibliografia mais recente de #ddj) e termino com exercícios. Uma das bibliografias que costumo utilizar para estimular a elaboração de hipóteses como ponto de partida é o livro “A investigação a partir de histórias”, do Mark Lee Hunter. Conversa muito com o que preconiza o Philip Meyer em termos de hipótese e método de apuração. No mais, procuro oferecer exercícios de fácil solução (mas que demandam raciocínio lógico dos alunos) em um primeiro momento. Muitos deles se sentem frustrados quando não conseguem resolver tarefas simples, e tendem a desistir antes mesmo de chegar aos temas mais complexos. É importante que o professor tenha essa sensibilidade e ajude os estudantes - um passo de cada vez.

Destaco, ainda, um texto bastante útil para pensar a preparação das aulas para diferentes níveis (jornalistas graduados ou estudantes de jornalismo, neste caso específico): “Teaching data journalism”, da Bahareh Heravi. Ela diz que é preciso considerar as diferenças entre esses dois públicos. Exemplo: um jornalista graduado está acostumado a identificar e consultar fontes, mas um graduando ainda não conhece essa dinâmica e os pressupostos da profissão. Em algumas oficinas que ministrei, os alunos tiveram grandes dificuldades de identificar que fontes seriam úteis para obter determinada informação. Via de regra (especialmente os que ainda não passaram por estágio ou outra atividade) não sabem por onde começar a busca pelas informações.

Não sei bem como seria a inclusão de uma disciplina de jornalismo de dados no ensino médio. Talvez mais útil do que isso seja falar de estatística básica, algumas competências necessárias para análise crítica, e depois, sim, mostrar como isso se viabiliza no produto (notícias). Falar sobre jornalismo de dados implicaria falar sobre jornalismo, em um primeiro momento, e dar conta de suas teorias e complexidades. Já dei aula para alunos do ensino médio em um projeto chamado “análise crítica da mídia”, em que mostramos, em linhas gerais, como funciona o jornalismo e como as decisões são tomadas até as notícias serem publicadas.

Espero ter contribuído com a discussão. :wink:
Deixo meu e-mail à disposição caso alguém queira conversar sobre: [email protected]

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Me formei na Estácio e tivemos essa disciplina no último semestre. Apesar dos esforços da ótima professora que tivemos, o conteúdo ainda é bem básico. Nós nem vimos a aula disponibilizada pela faculdade em si, mas de um curso que a professora fez e repassou pra gente.

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Salve!
Eu ainda não dei uma disciplina de jornalismo de dados aqui na Federal de Rondônia, mas estou montando um módulo para um curso de extensão sobre fake news que vai trabalhar com ddj como fonte para verificação, e pretendo também montar futuramente (quando estiver mais inteirado da coisa, já que não sou jornalista e sim designer) uma disciplina optativa para trabalhar ddj e visualização principalmente no que diz respeito às grandes reportagens e produtos em longform multimídia, em que visualizações dinâmicas contribuam para a compreensão da matéria.

Aliás esse curso veio super a calhar para mim pois está me apontando alguns tópicos que eu havia deixado de lado na montagem do meu módulo de extensão :D.

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Olá pessoal, tivemos em 2019/2 a disciplina de Jornalismo de Dados na ECO/UFRJ. Fui professor assistente do Prof. Paulo Castro que é o titular da disciplina que é optativa. É o curso introdutório onde a avaliação final é uma matéria jornalística baseada em dados. Pela minha experiência, o conteúdo mínimo para um bom curso de Jornalismo de Dados teria que ser dado em 2 semestres, mas em um semestre o aluno consegue pelo menos finalizar o curso sabendo que existe uma metodologia e quais ferramentas são mais utilizadas pelos profissionais.

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Olá, seu tópico sobre cursos de graduação em jornalismo, me remeteu ao debate sobre os paralelos e necessidades comuns sobre a formação para análise e trabalho com dados com um desafio comum à a toda área de “Humanidades & Sociais”.

Seu tópico me fez lembrar do Prof. José Marques de Melo, e, Pensamento Comunicacional Brasileiro, em especial o Volume I - História e Sociedade, preciso checar mas creio que também no Volume II - Cultura e Poder e no Volume III - mídia e consumo, pois representam uma tríade singular sobre como as escolas de comunicação e este campo de produção de conhecimento, que no meu entender ainda orbitam distantes sobre a realidade baseada em dados na qual vivemos a décadas, mantendo os cursos longe de uma perspectiva da Análise de Dados.

Assim, fiz uma busca preliminar sobre e no ano de 2018, a “FORMAÇÃO JORNALÍSTICA E OS NOVOS FLUXOS INFORMATIVOS: Uma análise do perfil de profissional previsto nas Diretrizes Curriculares Nacionais”, não vi o tema destacado como elemento na discussão.

Fui então, aos originais das Diretrizes Curriculares Nacionais - DCNs, ainda assim, não passam nem perto da complexidade que o tema implica. Tanto no relatório da comissão de especialistas das Diretrizes Curriculares de 2009, como no texto das DCNs de 2013, o assunto da Análise de Dados está muito implícito & disperso.

Digo isto, pois apesar da qualidade das pesquisas sobre formação de jornalistas, por exemplo no estudo de Fernanda Lima Lopes em Ser Jornalista no Brasil, ou no debate sobre a “Formação do jornalista contemporâneo: a história de um trabalhador sem diploma”, e até mesmo no recorte sobre Jornalismo científico da FAPESP, penso como vocês, que há pouca centralidade do tema.

Lendo os tópicos abaixo, vejo como a forte importância, uma pesquisa que alie técnicas de raspagem de dados, inquéritos populacionais a depoimentos, estes todos articulados e integrados como uma composição, “painel vivo”, talvez um guia os estudantes ou jovens profissionais seja os da graduação, sejam aqueles que estão migrando para a área.

Até mais :grinning:

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Olá, @josir, interessante sua experiência, pois isso já nos remete a uma ideia de “Ênfases de um curso de graduação”, algo previsto pelas Diretrizes Curriculares, que permite que os cursos sejam direcionados para o tema, o que agregaria e daria contexto as disciplinas…
Esta referência que compartilha, é um bom parâmetro… :upside_down_face:

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Muito interessante, acabei buscando as Diretrizes Curriculares Nacionais, a partir desta sua ponderação.
Talvez, ajude pensar em apontar no projeto uma breve ponderação sobre o quanto as DCNs á ultima são de 2013, não tratam disto como prioritário, embora tenham pontos que articulados podem ser amarrados para bom argumentos no convencimento…